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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Eu te conheço,

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Lábios de mel e uma alma repleta de desejo. Traços de menina e um jeito único de lidar com a vida. Sorriso aberto, daquele tipo que a gente fica feliz só por ver, só por estar perto. Olhos verdes, caminhar lento, uma verdadeira ilha no meio de tanta superficialidade. Interessada pelos pormenores da realidade, recolhida à minúcia de sua existência, humilde e um tanto corajosa. Entende que a vida fugaz que possui não serve como desculpa para erros. Rendida a solidão de ser só, não faz muita questão de conjugar os “nós” que lhe são oferecidos.
Timidez exaltada e um silencioso dom para engar-se. Mantém feridas expostas e goza da obediência negada aos padrões. Nunca gostou de dar nomes às coisas, e muito menos de senti-las de perto. Encontra refúgio nos livros, nas artes, no que não possui foco. Gosta do imaginário e do gosto poético contido nas ruas, diluído em um mar de depressões e prazeres. Desmanchada em saudade, reconstruída por ilusões, uma aprendiz do que chamam de destino. Completamente entregue à mesmice dos dias, retrata seu encantamento pelo medo em linhas vazias, em pensamentos desconexos, em palavras subordinadas ao desespero. Mostra-se relativamente forte e cria armadilhas em si mesma.
Foi apresentada ao amor na adolescência, no auge da inocência, sem sequer ter conhecido o ardor da paixão. Sentia-se insegura, presa ao que foi feito para libertar. Sofreu com perdas e enganos, como todos nós. Mas soube regozijar-se com a derrota, absorvendo o aprendizado, remoendo as angústias, expulsando a vergonha. Aprendeu e ainda aprende, a viver. A ser. A ter o que contar e falar sem se esconder.
Já mais tarde,ainda com a mesma essência frágil e coberta de interrogações, aprendeu a adaptar-se ao mundo comum, ao desperdício, à ausência de motivos para se continuar vivo. Preenchida por certezas frouxas, cercada de abandonos, uma espécie de caixa de mudanças contínuas, se mantêm quieta durante grande parte do dia, fala pouco e se dá bem consiga mesma. E isso basta para ela. Sente-se nua quando questionada sobre seu coração, pois sempre viveu ofuscada pela luz do romantismo e nunca dependeu de homem algum para se satisfazer fisica e psicologicamente.
E sempre, ao fim da tarde, recolhe os retalhos que restaram da guerra contra as ideologias sociais e se prepara para reconstituir seu âmago, seu espírito, e entrar em sintonia. E estar em sintonia, e permanecer em sintonia. E ela, como de costume, muda. Transforma-se em bagagem, em pétala, em cata-vento e foge. Desprende-se e vai. Todos os dias, nessa repetição de ser inconstante e firmar-se no que é límpido. Ou na escuridão. Sem peso, nem culpa. Porque no fim, do dia ou da vida, nos tornamos leves e sutis como um fio tênue. E nada mais que isso.